sexta-feira, 25 de setembro de 2009

NO AUGE DO RIVOTRIL

Sou patriota, amo minha pátria, para além das suas indescritíveis paisagens geográficas, mas sobretudo, por causa das indissociáveis paisagens humanas de multifaces, razão pela qual a faz mais rica do que pelos minerais caprichosamente guardados em suas águas profundas. Sua grande riqueza é o seu povo e sua grande arte é esta colcha detalhadamente retalhada pelas várias etnias que compõem o que somos hoje e o que seremos amanhã.
Por isso, quando entoam o seu hino, eu me arrepio todo, e com aquele espírito cívico que herdei dos mestres que inculcaram a cidadania, firmo-me altivo ante o pendão auriverde, sem envergonhar-me de adotar uma postura até solene... Quase militar!
Mas o que vimos nesses últimos tempos de exaltação ao sentimento pátrio, foram cenas realmente quixotescas! Vanuza cantou o nosso hino completamente desafinado, numa sessão solene de uma Câmara Municipal de São Paulo, oferecendo aos mais críticos, subsídio de riquíssima simbologia, para tecermos de modo irônico, como já é da índole da brasilidade, a mais refinada crítica social. A cena está lá na internet para quem quiser se deliciar...
Depois dos últimos acontecimentos do senado, a nação deve estar mesmo entorpecida! Os nossos bons chargistas e o Macaco Simão com sua verve sempre irreverente, com certeza farão ou já fizeram, graças à desastrada “performance” da cantora da jovem guarda, as mais hilariantes abordagens...
Talvez seja por causa desse desvario e descontrole rítmico, melódico e cênico, atribuído depois ao uso de remédios fortíssimos, é que Vanuza se superou. Entendam-me os caros leitores, não estou incentivando o uso de psicotrópicos, longe disso... Mas, o evento em si, serviu-me perfeitamente de parábola para referir-me a essa sorte de coisa que vem acontecendo no cenário político, sobretudo, no âmbito do senado federal: um tremendo desafino dos homens de poder com a nação. Cogita-se até mesmo a supressão dessa segunda casa, questionando se para fazer o que fazem, não seria suficiente somente uma. O poder: todos querem ter, poucos sabem usá-lo.
Com as exceções que existem em todo o setor, o mesmo remédio faixa-preta ingerido pela cantora, deveria ser repassado, como numa grande “farra”, aos senhores e senhoras do senado, para que pudessem não só bebê-los, mas “engoli-los” (para usar literalmente a expressão de um dos defensores de Sarney). E quando o efeito assim lhes trouxessem aquela torpeza na voz, aquela frouxidão e conseqüente descoordenação dos movimentos e das idéias, arvorassem também, num só coro, cantar o hino nacional. O resultado desse devaneio seria a expressão mais real do que se passa nas mentes, nas tribunas e nos recônditos daquela casa parlamentar: um desafino geral. Aí sim, assistiríamos a um verdadeiro desrespeito ao senso comum e ao espírito de democracia, diga-se, conquistado a duras penas.
Aproximam-se as urnas mais uma vez e a gente torce para que o povo repudie a ingestão dos mesmos “remedinhos” oferecidos pelos parlamentares, a partir de então, em suas campanhas homeopáticas, para o entorpecimento da memória e da consciência popular, e não perca a grande oportunidade de substituir aqueles que mais desafinam com a defesa dos interesses mais prementes dessa “brava gente”... Unidos poderemos fazer uma orquestração melhor e cantar o hino da pátria com maior galhardia, não somente nessas “manhãs de setembro”, mas nos outros dias dos meses vindouros.