quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012

Bial e Boal

Estou lendo um livro de Augusto Boal chamado: “Jogos para atores e não-atores”. O autor, nele fala de um tal “Teatro do Oprimido”, a partir de suas experiências que ganharam o mundo. Depois, fico sabendo que esse carioca nascido em 1931, também filho de padeiro como eu, formou-se primeiro engenheiro químico e só posteriormente enveredou-se pela carreira de dramaturgo o que o fez ser, em março de 2009, Embaixador Mundial do Teatro pela Unesco, uma honraria inédita para brasileiros. Boal não escondeu o orgulho de estar entre os 197 candidatos ao Prêmio Nobel da Paz 2008: “– Isso é extraordinário. É o reconhecimento da importância do Teatro do Oprimido”, assim dizia ele.

Além do tal livro que acabo de ler agora, existem pelo menos outros 28 títulos publicados no mundo inteiro sobre Boal ou sobre o Teatro do Oprimido, em línguas que vão desde o inglês, italiano, alemão, até o hindi indiano e o urdu do Paquistão.

Boal foi professor na New York University, na Harvard University e na Université de La Sorbonne-Nouvelle, um cidadão do mundo. Figuraça! Entre 1971 e 1986, foi exilado político. Não poderia ser de outra forma. Inventar um tipo de metodologia com encenações, a fim de refletir sobre a incoerência das várias formas de opressão reinantes em sua época?! Nesta fase, Boal desenvolveu as experiências teatrais que lhe renderam o reconhecimento internacional de público, crítica, pesquisadores e do meio teatral. As proposituras do Teatro do Oprimido são objetos de teses de mestrados e doutorados e de cursos em diversas universidades pelo mundo.

Mas o que vem a ser esse tal “Teatro do Oprimido”, muito difundido lá pelos idos de 70 em diante? A história é muito longa, não dá para falar tudo. O espaço, embora sendo generoso, deve ser usado com parcimônia. Navegando pela internet descobrirá muito mais. Adianto-lhe que o objetivo era tornar a linguagem teatral acessível a todos, como estímulo ao diálogo e à transformação da realidade social. Para melhor, é claro.

Permita-me um parêntese, um devaneio: dias desses, havia um grupo chamado “Cia. Teatral Voz da Terra” apresentando uma performance muito interessante lá nos altos de São Thomé. A peça deles se chamava “Villa-Lobos do Brasil – O compositor das Américas”. Pensei comigo, como o teatro é um elemento importante para refletir e fundamentar a identidade cultural de um povo. Os gregos sabiam muito bem disso. Por que será que a cultura juvenil anda tal maltratada ultimamente? Acho que nem o Teló sabe bem ao certo. Não seria por faltar aos jovens dos bairros, um protagonismo maior nesse quesito? Quem saberá resgatar às gerações de hoje, a atuação de um Jorge Resk, por exemplo, na Três Corações de antigamente?

Bem, gostaria de ressaltar aqui a minha admiração por esse grande artista brasileiro e dizer que o seu esforço não foi em vão, e que a sua obra, ainda por se fazer mais conhecida a um número maior de pessoas, continuará como fonte inspiradora para quem deseja fazer da vida algo muito mais além da produção, competição e lucro...

E aí você me perguntaria: e quanto ao outro? Olha, no atual momento fica muito difícil dizer alguma coisa. A gente bem que tentou dizer algo no passado recente, alertando sobre o triste teatro coordenado por ele, sob o comando da “Vênus Prateada”. Mas foi só indiferença, como se dissesse: “dá licença, as vozes discordantes só fazem por aumentar o ibope e audiência é o que faz cachê....”.

A esse jornalista que cobriu páginas importantes da história e a quem aprendemos também admirar pela simpatia e inteligência, coube a opção de colaborar para que chegássemos ao auge do besteirol na televisão. A história da comunicação, assim como há de fazer justiça ao Boal , não deixará passar ilesa a biografia do Bial. Já que tudo tem seu preço...