quinta-feira, 19 de setembro de 2013

O Teatro Romano na Antiguidade



                                                                                                              Luiz Sérgio Mafra
O contato do romano com o grego provocou um processo de apropriação dos valores culturais  que se enveredou também pelas manifestações artísticas. O teatro romano dos “mimos”,  já existia  no período anterior ao Império, mas remodelou-se com a influência dos gregos.  Essa hibridização foi tão forte que se chegou ao ponto de serem criadas algumas adaptações, cujas escolhas obviamente ocorreram mediante os diversos focos de interesse. O apogeu do teatro romano deu-se entre os séculos III e II a.C, com Plauto e Terêncio, mantendo certas diferenças entre eles.
O que se passa hoje com a chamada “Indústria Cultural”, que tende a nivelar tudo por baixo, a fim de que os seus produtos culturais sejam acessíveis a um maior número de “consumidores”, também se observa na análise desse fenômeno que envolve o teatro na antiga Roma. Muito interessente: o fato não é novo. Aliás nada é cem por cento novo.  Em certo momento, aquele teatro melhor elaborado, com tramas mais complexas, parece ceder espaço para performances mais caricatas, de mais fácil entendimento pelas camadas mais populares. Por de trás dessa controvérsia, que também – a meu ver - acolhe aquela  mesma discussão sobre as vantagens e desvantagens da reprodutibilidade técnica que tirou a “aura” do objeto artístico, se esconde a política do “Panis et Circenses”. Certamente, com a chegada dos grandes espetáculos de forte apelo emocional, protagonizados pelos gladiadores nas arenas, estetizando teatralmente a realidade violenta, a “indústria de entretenimento” da época,  haveria de sofrer um enorme impacto.
As tragédias surgidas no período Imperial, encontrou em Sêneca, filósofo estóico e conselheiro do amante de teatro que também foi Nero, um grande expoente. Talvez aqui, tenhamos um retorno a uma arte que se deixa penetrar mais profundamente pelas inquietações humanas, mesmo que admita, como fez num de seus escritos, que o pensador pode correr o risco de perder-se um pouco: “Dulce est desipere in loco”. 1
Da fala da Profa. Isabella Cardoso Tardin, pode-se intuir que, assim como os Romanos cederam à admiração dos helenistas, as “reeleituras” continuam em franca expansãoainda hoje. As épocas históricas possuem suas especificidades, mas o drama da existência humana continua mantendo algo de comum e perpassa por todas elas. Assim vemos, por exemplo,  o escritor brasileiro Ariano Suassuna,  reportar-se aos clássicos e misturá-los aos seus personagens regionalistas em meio às poeiras e às caatingas nordestinas. Para um ledor como ele, elementos desses quilates podem muito bem serem  identificados nas suas comédias,  como é o caso do “Auto da Compadecida” e  o “Santo e a Porca”. Essa última, um resgate de Plauto numa “imitação criativa”, que remonta aos escritores latinos.
A respeito dessa última referência, ressalvamos não tratar-se de um nivelamento por baixo. Disso já estamos mais do esgotados. Pelo contrário, trata-se de um dispositivo que eleva a cultura brasileira e a nossa língua portuguesa. Por essa e por outras, é que reafirmamos a excelência desse dispositivo,  ficando assim confirmado, mais uma vez e de maneira inequívoca,  a importância do estudo do latim.  
1 Os Pensadores. Sêneca e outros. São Paulo: Abril, 1980, p. 213.

A contribuição dos clássicos



Luiz Sérgio Mafra

É evidente que a civilização ocidental possua traços característicos que a difere daquela oriental.  Embora sejam inegáveis as marcas que subsistem em nossa língua, como é o caso do “moçárabe” , que nos chegou por via indireta, através do contato do mulçumano com o português,  a influência oriental nunca foi assim tão determinante, quanto foram aquelas que remontam ao nicho da cultura Greco-Romana.
A língua é a depositária da cultura de um povo. Língua tem muito a ver com o modo de conceber as coisas, com o modo de pensar e atuar de num determinado contexto e época. A ela cabe a transmissão e a conservação da herança cultural. Nas suas raízes estão os Clássicos. Obras de uma envergadura tal, que acabam - mesmo com a passagem dos tempos - permanecendo como pontos de referências de uma inteira civilização. Os clássicos gregos, por exemplo, nos  fornecem um arcabouço que, recebem  até hoje, uma aplicabilidade nas estruturas de novos  pensamentos. Essa forma “arquétipa” foi largamente utilizada no campo da psicanálise. “Os Lusíadas” de Camões, a “Divina Comédia “ de Dante, “Dom Quixote”  de Cervantes, são clássicos oriundos de uma mesma plataforma  latina, tornando-se cada uma delas, paradigmáticas, forjando cada uma, a seu modo, novas identidades linguísticas.
Desconhecer tais incursões seria como que reduzir o horizonte que nos permite visualizar essas conexões que se estabelecem entre o passado e o presente. E, falando sobre o presente,  não podemos deixar de perceber em nossos dias o apelo dos clássicos, até mesmo nas produções da indústria cultural. Com o avanço das novas tecnologias e da sofisticação dos recursos audiovisuais, as narrativas mitológicas, não raramente, nos surpreendem, com seus inéditos efeitos especiais. Foi assim com “Star Wars”; com “Matrix”, “Guerra de Titãs” e tantos outros, que remontam aos arquétipos inclusos numa literatura que conserva ainda hoje, a jovialidade nas suas narrativas, no drama e na comédia da existência humana.
Por fim, ao abordamos a importância dos clássicos na formação intelectual das pessoas, lembre-nos de que, com certeza,  haveremos de topar pela frente,  com abordagens que nos  remeterão diretamente aos estudos dos Clássicos. Portanto, vamos nos entretendo cada vez mais  com eles, pois eles nos preparam a fim de que alcancemos algo mais...