
Webdesigner: Luiz Sérgio
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E não é que o “velhote” mais genial da arquitetura contemporânea não deixará a história sem homenagear o “Atleta do Século”? Pois é, a gente fica até com uma pitadinha de inveja. A cidade paulista de Santos vai erguer um monumento a Pelé, com formato de uma bola, idealizado por Oscar Niemayer, que começou a esboçar Brasília na mineirice dos rabiscos da Pampulha. No interior desse projeto arquitetônico, hospedar-se-á um Museu, para a preservação da memória de Edson Pelé. Vai ganhar notoriedade, visibilidade, apelo turístico e dividendos financeiros.
Em época de preparativos para a Copa, os investimentos e os projetos hão de ser ousados. Muitos já questionam a viabilidade desses planos milionários e o que se fará depois de haver passado o evento, com todos esses aparatos de engenharia... A reportagem da televisão, num domingo à noite, fazia-nos ver como a China, por exemplo, continua utilizando os espaços criados e remodelados para as olimpíadas que ela promoveu. E assim, somos instados a acreditar que valerá a pena esse gasto do dinheiro público. O memorial do Pelé em Santos, sem dúvida, está sendo um projeto de homens ousados, para reverenciar a história de uma pessoa que é um tremendo exemplo para a juventude atual, carente de símbolos realmente significativos. Principalmente para aqueles que compartilham da mesma etnia.
Enquanto isso, nós aqui no berço do Rei, reconhecemos o anseio geral da população tricordiana de estreitar mais os laços com a insigne celebridade, mas admitimos que a prática não anda muito em sintonia com as intenções. A ironia, talvez, seja uma forma de compensar a frustração coletiva. O “Gordo” plantou estrategicamente à beira da Fernão Dias um belo trabalho artístico, evocando o famoso “soco no ar” de Pelé após a comemoração de um gol. Alguns galhofeiros disseram tratar-se de um arremesso de pedra na “Coca” (!). Piadas à parte, já vi muita gente parada naquele trevo, admirando e tirando fotos...
Pelé representa vários mitos da nossa civilização. O mito do “made self man”, ou seja, do menino de origem humilde que se projetou para o mundo pela força de vontade e pelo impulso do carisma. O mito da fortaleza da raça. É bom que falemos nisso nesse mês dedicado à consciência negra. Em um período em que a sociedade não teria como esconder a sua hipocrisia - devido a discriminação racial latente - ele se auto-afirmou, derrubando barreiras inimagináveis. Enfrentou de modo natural, inconsciente e involuntário a ideologia do “branqueamento” e fez valer com galhardia, a dignidade da sua negritude.
O mito do corpo saudável também é possível de entrever na biografia desse gigante. Por que as academias andam tão freqüentadas? Existe, por certo, a “ditadura da estética”, mas no caso dele, isso não tem relevância. Hoje, aos setenta, conserva a jovialidade pelas qualidades do seu biótipo, pelo beneficio acumulado da prática esportiva, pelo distanciamento dos vícios maléficos. O vigor é o resultante de uma vida primada pelo o equilíbrio.
O mito da imortalidade é algo bastante buscado pelos homens e mulheres da era de tecnologia avançada. Queremos superar limites e viver para sempre. Sabemos que isso não se conquista plenamente no plano físico. Serão nossas ações voltadas para algo realmente meritório que nos imortalizarão. O legado de Pelé haverá de mantê-lo por muito tempo, como destaque único no seu campo de atuação.
Por fim, o mito da universalização, para evitar o outro termo “globalização”, de cunho mais mercadológico. Se bem que, é preciso lembrar que ao tratarmos com ele, também estaremos tratando com um homem empreendedor. O empresário Pelé é um homem com vistas também para o mercado. Tanto é que, uma proposta de bom investimento não seria de todo descartável. Por que não uma empresa de Pelé em sua própria terra?
A consciência de que o mito, agora extrapola os limites geográficos e vai se configurando no mundo todo, imprime serenidade aos conterrâneos, sem com isso querer justificar acomodações que serão imperdoáveis na história local. A questão da preservação da memória é algo que se impõe para a cidade de forma quase inexorável. É certo que existem outras demandas administrativas e o limite dos recursos disponíveis pode não deixar os sonhos correrem à solta. Pode ser que não tenhamos a mesma força e a mesma capacidade de mobilização da cidade paulista, mas não podemos nos conformar em oferecer apenas uma sala na Casa da Cultura, em meio a tantas outras “coisas” igualmente importantes, para documentação do nosso passado, sem que se faça algo para destacar essa deferência justa, educativa e necessária.
Adital - Séculos de guerras, de confrontos, de lutas entre povos e de conflitos de classe nos estão deixando uma amarga lição. Este método primário e reducionista não nos fez mais humanos, nem nos aproximou mais uns dos outros e muito menos nos trouxe a tão ansiada paz. Vivemos em permanente estado de sítio e cheios de medo. Alcançamos um patamar histórico que, nas palavras da Carta da Terra, "nos conclama a um novo começo". Isto requer uma pedagogia, fundada numa nova consciência e numa visão includente dos problemas econômicos, sociais, culturais e espirituais que nos desafiam.
Esta nova consciência, fruto da mundialização, das ciências da Terra e da vida e também da ecologia nos está mostrando um caminho a seguir: entender que todas as coisas são interdependentes e que mesmo as oposições não estão fora de um Todo dinâmico e aberto. Por isso, não cabe separar mas compor, incluir ao invés de excluir, reconhecer, sim, as diferenças mas também buscar as convergências e no lugar do ganha-perde, buscar o ganha-ganha.
Tal perspectiva holística vem infuenciando os processos educativos. Temos um mestre inolvidável, Paulo Freire, que nos ensinou a dialética da inclusão e a colocar o "e" onde antes púnhamos o "ou". Devemos aprender a dizer "sim" a tudo aquilo que nos faz crescer no pequeno e no grande.
Frei Clodovis Boff acumulou muita experiência trabalhando com os pobres no Acre e no Rio de Janeiro. Na esteira de Paulo Freire, entregou-nos um livrinho que se tornou um clássico: "Como trabalhar com o povo". E agora face aos desafios da nova situação do mundo, elaborou um pequeno decálogo daquilo que poderia ser uma pedagogia renovada. Vale a pena transcrevê-lo e considerá-lo pois nos pode ajudar e muito.
1."Sim ao processo de conscientização, ao despertar da consciência crítica e ao uso da razão analítica (cabeça). Mas sim também à razão sensível (coração) onde se enraizam os valores e de onde se alimentam o imaginário e todas as utopias.
2. Sim ao "sujeito coletivo" ou social, ao "nós" criador de história ("ninguém liberta ninguém, nos libertamos juntos"). Mas também sim à subjetividade de cada um, ao "eu biográfico", ao "sujeito individual" com suas referências e sonhos.
3. Sim à "praxis política", transformadora das estruturas e geradora de novas relações sociais, de um novo "sistema". Mas sim também à "prática cultural" (simbólica, artística e religiosa), "transfiguradora" do mundo e criadora de novos sentidos ou, simplesmente, de um novo "mundo vital".
4. Sim à ação "macro" ou societária (em particular à "ação revolucionária"), aquela que age sobre as estruturas. Mas sim também à ação "micro", local e comunitária ("revolução molecular") como base e ponto de partida do processo estrutural.
5. Sim à articulação das forças sociais sob a forma de "estruturas unificadoras" e centralizadas. Mas sim também à articulação em "rede", na qual por uma ação decentralizada, cada nó se torna centro de criação, de iniciativas e de intervenções.
6. Sim à "crítica" dos mecanismos de opressão, à denúncia das injustiças e ao "trabalho do negativo". Mas sim também às propostas "alternativas", às ações positivas que instauram o "novo" e anunciam um futuro diferente.
7. Sim ao "projeto histórico", ao "programa político" concreto que aponta para uma "nova sociedade". Mas sim também às "utopias", aos sonhos da "fantasia criadora", à busca de uma vida diferente, em fim, de "um mundo novo".
8. Sim à "luta", ao trabalho, ao esforço para progredir, sim à seriedade do engajamento. Mas sim também à "gratuidade" assim como se manifesta no jogo, no tempo livre, ou simplesmente, na alegria de viver.
9. Sim ao ideal de ser "cidadão", de ser "militante" e "lutador", sim a quem se entrega, cheio de entusiasmo e coragem, à causa da humanização do mundo. Mas também sim à figura do "animador", do "companheiro", do "amigo", em palavras pobres, sim a quem é rico de humanidade, de liberdade e de amor.
10. Sim a uma concepção "analítica" e científica da sociedade e de suas estruturas econômicas e políticas. Mas sim também à visão "sistêmica" e "holística"da realidade, vista como totalidade viva, integrada dialeticamente em suas várias dimensões: pessoal, de gênero, social, ecológica, planetária, cósmica e transcendente."
Finalmente, o projeto Ficha Limpa foi aprovado e já valerá nas eleições deste ano. A Lei 9.840 foi criada para combater a compra de votos e o uso da máquina administrativa durante o período eleitoral. É a primeira Lei criada por iniciativa da população que se organizou e coletou mais de um milhão de assinaturas.
No site do Congresso em Foco diz que cerca de 20% dos atuais detentores de mandatos da Câmara e do Senado, se o Ficha Limpa existisse nas últimas eleições, não poderiam se candidatar. Alguns estão teimando em fazê-lo, mas esperamos que a Justiça Eleitoral impeça que isso aconteça.
Nos últimos dias, vários candidatos registraram suas candidaturas nos Tribunais Regionais Eleitorais. A pergunta que se faz agora é a seguinte: Não caberia a esses tribunais realizar uma triagem das inscrições? Quem irá fiscalizar?
O professor Daniel Seidel, da Universidade Católica de Brasília, amigo nosso desde os tempos de militância na Pastoral da Juventude, diz que houve uma solicitação, logo depois da aprovação da lei, para que os movimentos sociais, fizessem esse tipo de triagem. Cá entre nós: talvez quisessem “queimar” esses movimentos (uma tendência perceptível das elites que se sentem ameaçadas em seus privilégios). Essa possibilidade foi rejeitada por acharem que, justamente, quem tem que fazer isso são os Tribunais Regionais Eleitorais. Percebe-se, no entanto, com satisfação, que os Ministérios Públicos Eleitorais estaduais estão entrando com ações pertinentes, questionando uma série de questões que a Ficha Limpa apresentou.
Com a Ficha Limpa pessoas condenadas ficam inelegíveis por oito anos. Efetivamente, ela foi um passo a mais muito importante para o aprimoramento do sistema de democracia representativa que vive uma série de crises e falhas. A ideia era fazer uma reforma política que, como grande projeto, nunca vai adiante. Então se achou por bem fazer dessa forma a mudança, com projetos como o do Ficha Limpa. Se quisermos outro tipo de democracia, precisamos avançar muito para consegui-lo. E é bom que o eleitor esteja atento para essas questões, pois uma mudança desse “calibre”, que toca nos interesses de quem está no comando do poder político e pretende a todo custo se manter nele, não acontece de uma hora para outra, sem que se enfrente alguns trâmites delicados. No tocante a esse aspecto, é preciso cobrar que os sistemas jurídicos e judiciais funcionem com maior celeridade e imparcialidade nas suas decisões. São eles que devem dizer para a população quem pode e quem não pode ser votado. Quando terminar essa campanha eleitoral poderemos até fazer um balanço do quanto esse processo caminhou...
Em resposta à pergunta - Como se pode participar e contribuir para a aplicação da lei Ficha Limpa, o referido professor Seidel numa entrevista respondia: “Uma forma é acompanhar quem está se candidatando e quais são as decisões que o Judiciário está proferindo a respeito da situação desses candidatos. Com isso, popularizar a informação. Nós, enquanto população, temos que fazer o trabalho de base, ou seja, se esclarecer e ajudar no processo de divulgação das informações”.
Hoje, temos uma ajuda muito grande da internet, onde podemos intimidar candidatos e mostrar o quanto sabemos da lei e estamos acompanhando os processos. Dias desses, recebi por e-mail, uma lista contendo o nome daqueles que votaram contra os interesses dos professores que estavam, até bem pouco tempo, em paralisação por melhores condições salariais, numa assembléia realizada na capital mineira. Essa é uma eficaz ferramenta da qual não dispúnhamos com tanta eficácia e rapidez.
Então, resumindo, as pessoas podem participar, efetivamente, acompanhando as decisões do Judiciário, esclarecendo, por seus meios, o que está acontecendo no processo político e se engajando nos comitês de debate sobre corrupção eleitoral. Não seria nada ruim se cada partido político organizasse uma representação interna para cuidar exclusivamente desse item, evitando o ingresso ou permanência de pessoas desonestas nas suas fileiras. Com toda certeza a população agradeceria.
Alguém me abordava na esquina, comentando os meus artigos e solicitando algo nesse sentido. Pois aí está. A democracia deve estar também presente nos processos comunicacionais. O povo pede, a gente tem que procurar entendê-lo para atendê-lo.