terça-feira, 26 de janeiro de 2010

UM OLHAR SOBRE A CIDADE

Vou salientando logo de início, tratar-se de apenas mais um olhar, portanto unívoco, feito a partir de um ponto de vista, mesmo que os ouvidos estejam sintonizando outras vozes, igualmente impregnadas desse desejo de participação, numa cidadania ativa. Tomada do ângulo de visão pessoal , carente de perspectivas mais amplas, mesmo assim, acredito que a abordagem possa ser conseqüente, posto que é manifesto também do desejo de escapar do instinto terrível da omissão. Aliás, quero ressaltar aqui, a militância jornalística de tantos colegas que não se furtam em dizer o que pensam, nos diversos veículos de comunicação impressa que circulam pela nossa cidade. Em tempos de reinvenção do papel da imprensa escrita, louvo a missão social dos senhores diretores de jornais. É tarefa árdua, mas extremamente meritória se o que lhes motiva for também a perspectiva de abertura de canais de expressão para a população e de bem informá-la acerca do que lhe importa saber e discutir. O fundamental é não sucumbir ao monopólio do capital, a exemplo do que vem acontecendo com as grandes mídias mundiais. A cidade precisa ser continuamente reinventada e discutida, daí a emergência de uma imprensa livre e aberta ao jogo do pensamento plural.
Com a chegada dos tempos novos, escapa-nos a consciência de pertença a uma comunidade. Vamo-nos acostumando aos aglomerados, sem identidade própria, sem um colorido específico. É a famosa terra donde tudo já teve, mas pouco permaneceu e prosperou... Os conterrâneos que tiveram que “cavar” o sustento em outras terras, quando retornam se surpreendem: “Como a cidade está feia...”. “Meu Deus, quantos buracos nas ruas!”; “Entupida de carros e com calçadas tão estreitas...”; “Não existe opção de estacionamento gratuito”; “Como o mato cresce por aí”; “O sistema de saúde está complicado”... Isso sem falar no que diz respeito à criminalidade juvenil que, não raro, vem estampada nas primeiras páginas dos jornais com nomes e rostos que denunciam de onde mais proliferam as nossas maiores deficiências sociais.
Visitem os projetos sociais e pasmem pela complexidade dos problemas vividos por crianças, adolescentes e jovens e dos apuros pelos quais passam aqueles que cuidam desses serviços... Não me sai da mente o rostinho de uma menininha que chegando a um desses projetos, dizia à assistente que tinha tomado “tinga” (deduza você mesmo que bebida seria essa). A responsabilidade não recai somente nas mãos das autoridades. Sabemos da dificuldade que os municípios hoje passam para “angariar” recursos públicos. O Estado absorve a maior parte deles, favorecendo uma política do “chapéu na mão”.
A respeito da estética urbana eu até ousaria uma chamadinha de atenção, não fosse a movimentação que já percebo na operação “tapa-buracos”. A mínima coisa que o cidadão pagador de impostos requer, são ruas bem pavimentadas e transitáveis. Sabendo disso, qualquer bom administrador haveria de convocar uma comissão permanente de “tapadores profissionais”, na certeza de que só com esse trabalho simples, já estaria angariando para si a simpatia de boa parte da população.
Existem outras medidas que não necessitariam de um grande montante de dinheiro para embelezar a cidade. Às vezes, uma solução simples e bem planejada é o suficiente para resolver certas questões que vão sendo roladas e deixadas para um depois que nunca chega. Usando aqui uma expressão da Ilze Garcia: ”Toró de parpite”, permitam-me elencar alguns que sempre me ocorreram:
- A ponte dos boiadeiros é um monumento histórico que realmente precisa ser preservado. Para transformá-la em ponto turístico da cidade, creio que bastaria tão somente uma boa injeção de cimento, uma estátua com a temática feita pelo nosso artista escultor Afonso Barra e uma bela placa comemorativa com um poema do Darcy. Feito isso, ela poderia ser aberta ao menos para os ciclistas...
- A economia solidária é uma experiência através da organização de trabalho coletivo, sejam em associações ou cooperativas, cujo convívio constrói além da renda, um ideal de vida mais autônoma, inclusive com a possibilidade de promoção da mulher. É muito bom encontrar um pastelzinho frito na hora no Mercado Municipal (dizem até que existe clube de amigos que se reúnem por lá), mas é pena, pois ele poderia se prestar a muito mais, incentivando o pequeno produtor rural, evitando o desperdício e abastecendo o consumidor com alimentos mais saudáveis e mais baratos. Dessa função o Mercado se esqueceu. Vamos ficar só pastel?
- Já que estamos por perto, olhemos a nossa “Praça de Esportes”. Ela não mereceria ser reformada e ativada, sobretudo, tendo em vista o lazer dos professores da rede municipal de ensino? Como seria legal ver os filhos dos educadores aproveitando um domingo ensolarado!
As idéias são muitas, não há espaço para descrevê-las em detalhes aqui. Nesses tempos em que energia é vital para o desenvolvimento, penso que qualquer administração com visão de futuro, estaria ligada nas novas formas de obtenção de energia limpa, ou seja, aeólica e solar... Mas acho que isso já é sonhar demais... Por fim, projetar o “Memorial Pelé” colocando-o bem próximo ao projeto de uma nova rodoviária, não seria uma obra tão fora de propósito, não é mesmo!? Aliás, isso, sem que se gastasse muito, já poderia estar acontecendo.

quarta-feira, 6 de janeiro de 2010

Alguém viu o Avatar por aí?


Lá se foi mais um. Dizem que o ano passou muito rápido. Ou não seria a dinâmica desenfreada desses tempos cibernéticos que fazem aumentar por demais essa nossa percepção? Mas não adianta mesmo: “o novo sempre vem”... e o velho, às vezes cai. Enfim, terminar o ano assistindo Avatar na telona foi uma ótima pedida. Em 3D então, uma maravilha! Eu diria uma glória para o cinema contemporâneo. Ficou mesmo aquela sensação de ter sido uma das melhores fitas “jamais vista na história desse país”, para usar a expressão de um ilustre personagem que também ganhou destaque na arte cinematográfica no ano que passou.

É claro que para produzir todo aquele entrelace de efeitos reais e virtuais, coube ao seu diretor James Cameron, esperar o tempo oportuno, o avanço da tecnologia adequada e o amealhar dos não poucos 500 milhões de dólares! Não pretendo reproduzir a sinopse do filme. Tudo é facilmente acessível na internet. Aliás, é interessante notar como a rede vem se tornando uma espécie de ante-sala, ou mesmo, fórum de discussão das significativas peças da indústria do audiovisual. Bem mais fácil do que tentar organizar um cineclube em nossa cidade, diga-se de passagem... É lá que a gente, ou se prepara, ou se aprofunda sobre o que nos interessou mais, deparando-nos com os outros que fizeram experiência semelhante a nossa, transformados agora, de mero público em ardorosos fãs.

Depois de nos transportar desse, para o imaginário mundo de Pandora, identificamo-nos com o ex-fuzileiro Jake Sully e vamos com ele filme a dentro. Acontece que ele, como a maioria dos comuns mortais, traz a marca de uma deficiência. A dele é resultante de outras batalhas que participou e que lesou-lhe as pernas, o que faz dele uma espécie de herói contraditório e paradigmático. Uma evocação a outros personagens mutilados pela guerra e pelo belicismo norteamericano, vistos já em outros filmes, lembra-se? Renascido em sua forma Avatar (palavra que dá a idéia de transformação), quem antes estava preso a uma cadeira de rodas, recebe um novo corpo – hibrido entre o humano desproporcional e o felino extremamente hábil. Ah! Prá que melhor?! Esse outro mundo é muito superior, ainda mais quando entra em cena a figura do feminino sensível: paraíso total!

Somos como ele, inebriados pelas belezas de um exótico território, em tudo ao nosso assemelhado, mas extremamente muito mais encantado. Como encantados também são esses seres chamados Na’vi , profundamente espiritualizados, visto que rezam e cantam, vivendo em perfeita sintonia com a natureza e comunitariamente bem dispostos, a exemplo dos tribais povos, exterminados pelas antigas armas e ideologias de conquista: os Sioux americanos, os Astecas dos Andes e os Tupis brasileiros.

Como ocorreu no passado e ainda hoje persiste, esse cenário de paz e harmonia é abalado pelas potentes armas de terror e destruição que irrompem em nome da conquista e da ganância humana, detonando essa “cosmovisão”, impondo-lhe no lugar, uma visão caótica. Tudo isso é magnificamente representado pela derrubada da gigantesca árvore ao redor da qual tudo gravitava. Essa “árvore-alma” pode ser somente árvore... (e come pipoca), mas pode ser também “Amazônia”, “Rio São Francisco”, a construção da “Represa Belo Monte”, o uso indevido dos agrotóxicos, etc...

Já dizem alguns, tratar-se de um filme divisor de águas. Os recursos da digitação gráfica são magníficos, mas o que concorre, a meu ver, para a sua relevância é a essência do conteúdo e o poder da sua esplendorosa metáfora fílmica. Tudo bem, se você quiser ir ao cinema buscando somente diversão e entretenimento, coma pipoca e divirta-se! Mas, acho um despropósito não absorvermos dele algumas lições civilizatórias. Sobretudo, nesses tempos em que se considera o tremendo fracasso da conferência sobre o meio ambiente realizada em Copenhague. Parecia mais uma torre de Babel. Nada foi acordado e tudo foi postergado. As chances agora de uma nova tentativa de acordo se voltam para a Cidade do México nesse 2010. A ausência de um compromisso mínimo faz aumentar o número daqueles que já consideram o enfrentamento da causa climática, uma causa perdida.

“Uma balela, essa questão de aquecimento global!” – já estão dizendo algumas vozes incomodadas, ao perceberem que o ecológico tem a ver com mudanças econômicas. Será que essas resistências só cederão quando estiverem com o caldo de lama entrando pelas suas ventas?

É por essas e outras que é preciso interpretar a mitologia cinematográfica de Avatar. O filme nos possibilita extrair dele muitas outras reflexões, pois o seu simbolismo é quase inesgotável.